ESCRAVOS DA ANGÚSTIA
Na reta final do vestibular, os jovens se apavoram
com a idéia de fracassar e vivem sob tensão
O professor Claudio Vicentino estava dando mais uma aula de história no cursinho Anglo, em São Paulo, quando viu dois alunos batendo um papo animado. Foi aí que ele proferiu a frase que cortou o ar pesado da sala como se fosse uma faca. "Vocês querem perder mais um ano da vida se preparando para o vestibular?", gritou. "Quem fica de salto alto, achando que sabe muito, não chega a lugar nenhum. Vocês sabiam que Hitler prestou o vestibular duas vezes para arquitetura e não passou? Viu no que deu, né..." Na sala, cujas janelas estão cobertas por compensado para que os alunos não se distraiam olhando a paisagem, todos ficaram em silêncio. Nem a referência a Hitler, que na verdade tentou belas-artes e não arquitetura, foi levada na galhofa. Cursinho é assim. Os alunos de repente começam a encarar as coisas mais a sério. Estão aterrorizados pelo fantasma do vestibular. No colégio, o professor que chega falando em salto alto só consegue melhorar o humor dos estudantes. No cursinho, ele é capaz de mexer com angústias que estão à flor da pele.